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A Inteligência Artificial na Patologia Oral e Maxilofacial

Autor Convidado: Dr. Lucas Lacerda de Souza

Mestre e Doutorando em Estomatopatologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/UNICAMP).

Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Pará

Editor-Associado da Revista Científica Journal of Medical Artificial Intelligence

 

A patologia oral e maxilofacial (POM) é uma área da odontologia que lida com o diagnóstico e tratamento de doenças que afetam a cavidade oral e a região maxilofacial. Desde os primeiros estudos na área, que datam da antiguidade, até os avanços modernos, essa especialidade tem evoluído significativamente.

Historicamente, o diagnóstico dessas condições dependia de análises clínicas, exames físicos e microscópicos. Com o tempo, a introdução de tecnologias como radiografias, tomografias e ressonâncias magnéticas, bem como técnicas moleculares de análise de tecido, como a imunoistoquímica e a hibridização in situ, revolucionou a forma como essas condições são diagnosticadas e tratadas. No entanto, apesar desses avanços, muitos desafios persistiam, incluindo a dificuldade em interpretar imagens complexas e incomuns.

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) tem desempenhado um papel crucial na transformação da especialidade. A integração da IA na prática clínica e na pesquisa trouxe uma nova era de inovação, oferecendo ferramentas para melhorar a precisão dos diagnósticos, automatizar processos e personalizar tratamentos.

Como a IA pode melhorar a precisão dos diagnósticos?

O diagnóstico precoce é crucial na POM, pois muitas condições, como cânceres orais e tumores benignos agressivos, podem ser tratadas quando detectadas em estágios iniciais. A IA, particularmente através de algoritmos de “Deep Learning” (aprendizado profundo, que se assemelha ao cérebro humano), tem mostrado um grande potencial para melhorar a precisão dos diagnósticos.

Algoritmos de “Machine Learning” (aprendizado de máquina) são treinados para analisar imagens, como radiografias, tomografias computadorizadas e de ressonância magnética, e lâminas microscópicas, bem como analisar padrões moleculares das doenças. Esses sistemas podem identificar padrões sutis e variações que podem escapar ao olho humano. Além disso, a IA pode auxiliar na triagem de grandes volumes de imagens, permitindo uma análise mais rápida e eficiente, o que é particularmente valioso em ambientes de alta demanda, como hospitais e clínicas especializadas, reduzindo o tempo de espera para o diagnóstico.

De que maneira a IA pode automatizar a análise de amostras e biópsias?

Um aspecto revolucionário da IA é sua capacidade de automatizar processos que tradicionalmente eram realizados manualmente. Nos laboratórios de patologia, a análise de biópsias e amostras pode ser um processo demorado e sujeito a variabilidade humana. A automação através de IA pode acelerar este processo e reduzir erros. Os sistemas podem ser programados para realizar a análise automatizada de amostras de tecidos, identificando características patológicas específicas e classificando-as por meio de sugestões diagnósticas. Isso é feito através da análise de imagens digitais, onde a IA pode reconhecer padrões de células e estruturas que são indicativas de doenças. Além disso, a integração da IA em sistemas de gestão de dados clínicos pode ajudar na organização e no gerenciamento de informações, facilitando a integração de diferentes fontes e melhorando a capacidade dos profissionais de saúde de acessar e utilizar informações relevantes para o diagnóstico e tratamento.

De que forma a IA pode ajudar a prever a resposta dos pacientes a diferentes opções de tratamento?

A personalização dos planos de tratamento é uma área onde a IA está mostrando um impacto significativo. A capacidade de criar planos de tratamento personalizados baseados em dados específicos do paciente é uma grande vantagem da IA. Algoritmos de IA podem analisar uma combinação de dados clínicos, genéticos e de imagem para recomendar tratamentos mais eficazes e ajustados às necessidades individuais dos pacientes.

Como a IA está acelerando a descoberta de novos biomarcadores e tratamentos?

A IA tem um papel fundamental na pesquisa e desenvolvimento dentro da POM. A capacidade de analisar grandes conjuntos de dados e identificar padrões complexos oferece novas oportunidades para a pesquisa clínica e básica. Na pesquisa, a IA pode ser usada para descobrir novos biomarcadores e compreender melhor a patogênese de doenças. Algoritmos de IA podem analisar dados de sequenciamento genético, transcriptômico, proteômico, metabolômico, etc. para identificar novas variantes genéticas associadas a doenças orais e maxilofaciais. Essa análise pode levar à identificação de novos alvos terapêuticos e ao desenvolvimento de novas estratégias de tratamento, o que se associa à personalização do tratamento, uma vez que as vias de desencadeamento das doenças podem variar de indivíduo para indivíduo.

Quais são os principais desafios éticos associados ao uso de IA?

Apesar dos avanços promissores, a implementação da IA na POM enfrenta vários desafios e considerações éticas. A privacidade e a segurança dos dados são questões cruciais, pois a IA depende de grandes volumes de dados clínicos e de imagem para treinar e validar os algoritmos. É fundamental garantir que os dados dos pacientes sejam protegidos e usados de forma ética e conforme as regulamentações de privacidade.

A validação e a transparência dos algoritmos de IA também são essenciais. Os sistemas de IA devem ser rigorosamente validados para garantir sua precisão e eficácia. Além disso, é importante que os profissionais de saúde compreendam como os algoritmos de IA funcionam e quais são suas limitações, para garantir que a tecnologia seja utilizada de maneira responsável e informada.

Considerações finais

A IA está transformando a POM ao melhorar a precisão dos diagnósticos, automatizar processos e personalizar tratamentos. No entanto, embora os avanços tecnológicos sejam notáveis, jamais devemos esquecer o maquinário que realmente importa: O HUMANO. A IA, com sua capacidade de analisar grandes volumes de dados e identificar padrões complexos, oferece ferramentas poderosas para os profissionais de saúde. No entanto, a interpretação clínica, o julgamento, a empatia e o cuidado com os pacientes continuam sendo aspectos essenciais que apenas os especialistas humanos podem fornecer. A combinação de inovação tecnológica e expertise humana é o caminho ideal para o avanço efetivo na prática da patologia oral e maxilofacial.

Materiais adicionais:

1 – Topol, E. J. (2019). Deep medicine: how artificial intelligence can make healthcare human again. First edition. New York, Basic Books.

2 – Entrevista de Youtube sobre “Deep Medicine: How Artificial Intelligence Can Make Health Care Human Again”: https://www.youtube.com/watch?v=ZWAnjdQy5kE